Nos 85 anos do estádio do Pacaembu, fatos e curiosidades do mais conhecido estádio municipal de SP

No dia 27 de abril de 1940, uma multidão de mais de 50 mil pessoas se reuniram para assistir às solenidades de inauguração do novo estádio de futebol da capital paulista. Não era aquele um estádio qualquer. Era o maior e mais moderno estádio municipal do Brasil, a primeira “arena multiuso” da capital, um local que marcou a história e a arquitetura paulistana.

Nas décadas de 1920 e 1930, o futebol brasileiro se dividia entre os que viam nele uma atividade recreativa e amadora, praticada em clubes e nos incontáveis campos de várzea da capital e aqueles que já enxergavam no jogo uma oportunidade de profissionalização.

Cia Citu Loteou o bairro do Pacaembu e cedeu o terreno para o estádio.
Cia Citu Loteou o bairro do Pacaembu e cedeu o terreno para o estádio.

Vale lembrar que as Copas do Mundo haviam recém começado e o Brasil não tinha tido grande desempenho na de 1930, no Uruguai, quando ficou em sexto e na da Itália, em 1934, quando amargou uma décima quarta colocação.

Tendo assumido a presidência em 1934, Getúlio Vargas deu início a um projeto de incentivo nacional ao esporte, como uma forma de alçar o Brasil ao status de potência olímpica. Vivíamos um período entre as duas grandes Guerras Mundiais e não é segredo que Vargas simpatizava com os ideias da Alemanha Nazista, entre elas a valorização do esporte como construção de uma imagem de nação forte, saudável, bem sucedida.

Nesse contexto, em 1936, a Prefeitura de São Paulo decidiu erguer um estádio municipal para a prática não apenas do futebol, mas de outras atividades “atléticas”. O então prefeito Fábio Prado e o governador Armando de Sales Oliveira participaram da cerimônia de lançamento da pedra fundamental da obra naquele mesmo ano, mas em 1937, já sob a prefeitura de Prestes Maia, o projeto original foi reformulado e ampliado e as obras seguiram o novo modelo proposto até o ano de 1940.

Inauguração não foi bem como era esperado

Cartaz chamava a população para a inauguração do Paceembu.
Cartaz chamava a população para a inauguração do Paceembu.

No dia 27 de abril de 1940, a multidão lotava as arquibancadas do estádio, à espera da solenidade de abertura.

Não demorou para ocupar o palco principal o prefeito Prestes Maia e o presidente da República, Getúlio Vargas, acompanhados do interventor federal Ademar de Barros.

Apesar de ser conhecido pela sua grande habilidade como orador, Getúlio Vargas foi recebido com uma sonora vaia pelo público paulistano e isso tinha motivo.

Depois de ter chegado ao poder com o Golpe de 30 sobre o então presidente paulista Washington Luís e ter, em seguida, reprimido a Revolução Constitucionalista de 1932, Vargas não era um personagem bem quisto em São Paulo. Além das vaias, outra manifestação política foi feita pelo público presente. 

Durante o período da Ditadura Vargas, eram proibidas as ostentações das bandeiras estaduais, mas, durante os desfiles das delegações que representavam clubes da capital paulista, a do São Paulo Futebol Clube entrou naturalmente ostentando o nome e as cores do time, (que são as mesmas do Estado de São Paulo). O estádio inteiro aplaudiu de pé a equipe e os locutores de todas as rádios (não havia televisão à época), repercutiram efusivamente o fato, dando um peso ainda mais político ao que deveria ter sido uma festa popular.

Os primeiros jogos e a Copa de 1950

O Pacaembu, na década de 1940.
O Pacaembu, na década de 1940.

No dia seguinte, 28 de abril de 1940, o futebol finalmente pode ocupar o novo estádio. Foi nesta data que teve início, em rodada dupla, o torneio Taça Cidade de São Paulo, criado para inaugurar o Pacaembu. Com apenas quatro participantes: Palestra Itália, atual Sociedade Esportiva Palmeiras, Corinthians, Coritiba e Atlético Mineiro.

A primeira partida foi disputada entre o Palestra Itália e o Coritiba. Com apenas dois minutos, Zequinha, do Coritiba, marcou o primeiro gol da história do Pacaembu. Apesar disso, o Palestra virou a partida e venceu por 6 a 2. Logo na sequência, o jogo foi entre o Corinthians e o Atlético Mineiro, vencido por 4 a 2 pelo clube paulista.

O torneio se encerrou no final de semana seguinte. Com os dois vencedores dos jogos anteriores se enfrentando.

O Palestra Itália entrou em campo para disputar com o Corinthians a grande decisão da competição. Com gols de Echevarrieta e Luizinho, para o time palestrino, e de Begliomini, para o clube alvinegro, o Palestra venceu o rival paulistano por 2 a 1 e se tornou a primeira equipe a vencer um título no estádio.

Depois de um intervalo de 12 anos, causado pela Segunda Guerra Mundial, e em razão da Europa estar se recompondo dos efeitos da guerra, a quarta edição da Copa do Mundo voltaria para a América da Sul e seria disputada no Brasil. 

Ocorrido entre 24 de junho e 16 de julho, o torneio teve jogos realizados em Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Na capital paulista, a sede da competição foi o Pacaembu.

O estádio sediou seis jogos da Copa de 1950 sendo apenas um único da seleção brasileira. Foi no dia 28 de junho daquele ano. 

Depois de estrear no Maracanã, a seleção brasileira disputou este seu jogo em São Paulo e acabou empatando com a Suíça, por 2 a 2.

Como todos sabem, o Brasil foi para a final daquela Copa disputar o título contra o Uruguai no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e perdeu o jogo por 1 x 0.

Não só de futebol viveu o estádio

Fruto de uma visão de incentivo ao esporte, o complexo do Pacaembu não privilegiou exclusivamente o futebol. Fábio Prado, prefeito de São Paulo de 1934 a 1938, foi responsável por criar o Departamento de Cultura e Recreação, em 1935, à frente do qual estava o escritor e compositor Mário de Andrade. 

Mário foi um entusiasta da construção do estádio, entendendo que esse espaço aliava esporte, lazer e cultura. A ideia de prover espaços públicos para que a população pudesse praticar exercícios físicos e atividades de lazer era, à época, uma novidade.

O projeto de Severo e Villares contemplava um espaço multiuso.
O projeto de Severo e Villares contemplava um espaço multiuso.

O projeto, na visão da gestão de Fábio Prado e Mário de Andrade, deveria ir muito além do futebol: nasceu ali a ideia do complexo esportivo e de lazer. O projeto previa piscina, quadra de tênis, quadra poliesportiva, pista para atletismo, salão de festas e palco para apresentações musicais. Para conseguir integrar tudo isso, a Prefeitura acertou com a Cia. City (que estava fazendo o loteamento do bairro do Pacaembu) a doação de uma porção complementar ao terreno do estádio, com 25 mil metros quadrados adicionais.

Quando pronto o complexo, além do estádio em si, foi dotado de ginásio poliesportivo, piscina, salão de eventos, restaurante e teatro, com uma belíssima concha acústica, usada em apresentações musicais e posteriormente demolida para dar lugar à uma nova arquibancada, que ficou conhecida como “tobogã”.

Com toda esta estrutura o local foi palco de campeonatos de natação, de basquete, atletismo, eventos sociais, culturais e foi sede da abertura dos Jogos Pan Americanos de 1963, disputados na capital paulista.

Arquitetura marcante e as polêmicas intervenções

A bela concha acústica foi demolida para construção de mais uma arquibancada.
A bela concha acústica foi demolida para construção de mais uma arquibancada.

O projeto do estádio original é do escritório Severo Villares, de Ricardo Severo e Arnaldo Dumont Villares, discípulos do famoso arquiteto Ramos de Azevedo e é um dos maiores representantes do estilo Art Déco na capital. A arquitetura Art Déco têm em comum o uso de formas geométricas, a busca pela simetria e o design abstrato.

Um exemplo deste estilo era a já mencionada belíssima concha acústica, que complementava o teatro do complexo e que fora demolida, em 1969, para dar lugar a uma arquibancada que em nada se integrava ao estilo do projeto arquitetônico original, gerando grande controvérsia sobre a obra.

Esta foi uma das mais criticadas intervenções na estrutura do estádio, mas como o complexo não era tombado, nada pôde ser feito e a criticada arquibancada perdurou até o ano de 2021.

Concessão à iniciativa privada mudou o perfil do complexo

Em 2019, na gestão do ex-prefeito Bruno Covas, o complexo do Pacaembu foi concedido à exploração da iniciativa privada. Dentre várias intervenções propostas, uma chamou a atenção. Justamente a derrubada da arquibancada tobogã para a construção de um hotel.

Inicialmente marcada para outubro de 2022, a entrega das obras foi adiada devido à pandemia da Covid-19 e prometida para junho de 2024. Inspeções em maio do ano passado, contudo, constataram atrasos que comprometeriam esse prazo.

A partir da concessão o Pacamebu passou a ser chamado "Mercado Livre Arena".
A partir da concessão o Pacamebu passou a ser chamado “Mercado Livre Arena”.

Concedido à Allegra Pacaembu por 35 anos, o estádio as obras que foram se sucedendo desde 2019 dobraram o orçamento inicial da reforma, de R$ 400 milhões para cerca de R$ 800 milhões. A obra ainda não está totalmente finalizada, mas em janeiro deste ano (2025) a Secretaria de Licenciamento Urbano permitiu que a praça esportiva reabrisse com capacidade reduzida para 20 mil pessoas.

Após cerca de quatro anos de obras, no último dia 25 de janeiro de 2025, o estádio foi reinaugurado, com o nome da empresa que comprou os direitos de “name rights” do local: “Mercado Livre Arena Pacaembu”.

 De forma ainda incompleta, e para comemorar o aniversário da cidade, o primeiro jogo do novo estádio foi a final da Taça São Paulo de Futebol Júnior, conhecida como Copinha, quando o time sub-20 do São Paulo venceu o do Corínthians, por 3 a 2.

Museu do futebol ocupa parte do Pacaembu

Em 29 de setembro de 2008, foi inaugurado embaixo da arquibancada do estádio o Museu do Futebol, um projeto que ocupa uma área de 6,9 mil metros quadrados. 

Sua arquitetura se destaca por integrar os espaços: o teto é a própria arquibancada, uma passarela liga os lados leste e oeste do prédio e permite uma bela visão da Praça Charles Miller.

A exposição principal, distribuída em 15 salas temáticas, narra como o futebol chegou ao Brasil e se tornou parte da nossa história e nossa cultura. Em 2013, o museu inaugurou o Centro de Referência do Futebol Brasileiro, que possui a primeira biblioteca pública especializada em futebol no país, com mais de 3 mil títulos nacionais e estrangeiros. Além disso, o espaço conta com atividades lúdicas para crianças e exposições temáticas temporárias.

O Museu do Futebol funciona de terça a domingo, das 9h às 18h na primeira terça-feira do mês abre até às 21h.Consulte mais detalhes das programações, horários detalhados e sobre os ingressos em: https://museudofutebol.org.br/

Fontes:

https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/concha-acustica-do-pacaembu-1992

https://artsandculture.google.com/story/awVhOz4JD3BgIg

https://www.olympics.com/pt/noticias/pacaembu-principais-mudancas-estadio-apos-reforma

https://capital.sp.gov.br/web/esportes/w/noticias/236752#:~:text=Inaugurado%20em%2027%20de%20abril,da%20cidade%20de%20S%C3%A3o%20Paulo.

https://www.metropoles.com/sao-paulo/a-seis-dias-da-reinauguracao-pacaembu-esta-sem-gestor-da-concessao

https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/concha-acustica-do-pacaembu-1992

https://www.infomoney.com.br/business/mercado-livre-fecha-investimento-bilionario-para-dar-nome-ao-estadio-do-pacaembu/

Este conteúdo é protegido por direitos autorais e seu uso comercial não é permitido sem autorização da Casa da Boia. Para compartilhamento, utilize o link da página.

Quer ser avisado quando tiver post novo?

Cadastre-se para receber avisos de novos posts, notícias e novidades sobre nossa atividades culturais.

Artigos relacionados

Veja outros assuntos que podem te interessar...