Corria o ano de 1921 e São Paulo foi surpreendida pela notícia de uma visita não programada do então presidente da república, Epitácio Pessoa. Para impressionar o mandatário da nação, o então prefeito Firmiano Pinto e o governador Washington Luiz decidiram construir nada menos do que um arco do triunfo na capital. Detalhe quase que sem importância. A obra teria que ficar pronta em nada mais do que três dias!
Você já recebeu um WhatsApp de um amigo distante com algo mais ou menos assim: “Oi, vai estar em casa amanhã? Tô chegando na cidade e vou passar aí”. Bom… você pensa: “danou-se. Vou ter que arrumar a casa e comprar umas coisinhas para impressionar”.
Uma obra para impressionar

Foi mais ou menos isso que aconteceu no ano de 1921, quando o governo de São Paulo recebeu uma comunicação da presidência da república avisando que em poucos dias o presidente Epitácio Pessoa faria uma visita à cidade.
O pensamento acima deve ter passado pela cabeça do governador Washington Luiz e do prefeito Epitácio Pessoa. Mas impressionar um presidente da república em viagem oficial não deve ser tão fácil quanto receber o seu amigo distante.
Entre pensar no cerimonial, convidados, no banquete que seria servido, tiveram a ideia de construir nada menos do que um arco do triunfo na capital paulistana.
Mas o problema era o prazo

Recorreram, adivinhem a quem? Francisco de Paula Ramos de Azevedo, e seu escritório, cujos arquitetos certamente tiveram alguns dias de privação de sono.
Até que o projeto do arco fosse aprovado, sobraram poucos dias para aprontar a obra.
Um monumento construído em três dias.
A obra para construção da homenagem ao presidente começou no dia 16 de julho e a chegada de Epitácio Pessoa estava prevista para o dia 19. Ramos de Azevedo colocou um exército de 200 operários para trabalhar durante três dias consecutivos, 24 horas por dia.
Deu certo. Na manhã de 19 de junho de 1921, os últimos operários deixavam a obra para a chegada do presidente.
Um monumento de madeira e gesso
O arco do triunfo paulistano era uma obra impressionante.
Tinha nada menos do que 28 metros de altura e 2 27 de largura. Entre a estrutura de sustentação, o arco propriamente dito, que tinha uma passagem de 10 metros de largura.
Ele comportava em sua parte superior quatro bandeiras nacionais e, para o dia da chegada do presidente, ainda foi decorado com flores.

O arco do triunfo paulistano trazia em cada uma de suas faces as inscrições “A cidade de São Paulo” e “Salve Epitácio Pessoa”. Na noite em que o presidente esteve na cidade, uma bandeira nacional ainda foi “desenhada” com mais de 1.000 lâmpadas.
Olhando essa suntuosidade do monumento é de se espantar mesmo que ele tenha sido construído em apenas três dias.
Mas há uma explicação. O arco do triunfo paulistano foi concebido em madeira e gesso.
Enquanto parte dos operários erguia a estrutura principal em madeira, as oficinas de Ramos de Azevedo trabalhavam sem parar para moldar as placas de gesso que dariam o acabamento à obra.
Desta forma meio insana, conseguiram entregar o arco a tempo.
O jornal Folha da manhã, em sua edição de 19 de agosto de 1921, trazia a notícia da chegada da comitiva presidencial:
“O trem com o presidente da República, Epitácio Pessoa, chegou à estação da Luz, em São Paulo, sob estrepitosa salva de palmas e vivas, às 11h30 desta sexta-feira (19). Ouviu-se então, executado por várias bandas de música espalhadas pelo local, o Hino Nacional.
Assim que desceu do vagão, ele foi cumprimentado pelo presidente do estado (o governador Washington Luís) e por outras autoridades.
Na saída da estação, recebeu as continências militares e viu a estrondosa manifestação da massa popular, atrás de um cordão de isolamento, para saudá-lo.
Epitácio veio a São Paulo em visita oficial.”
(Folha da Manhã, 19 de agosto de 1921)
No dia 30 de junho de 1921 o jornal Folha da Noite comentava a chegada do presidente de volta à capital federal, a cidade do Rio de Janeiro:
“Após visitar o estado de São Paulo, o presidente da República, Epitácio Pessoa, retornou ao Rio de Janeiro.
Por ocasião da sua chegada, havia na estação carioca uma representação da Ação Social Nacionalista, com bandeira e música, e muitos sócios da Liga dos Pescadores.
No Catete, Epitácio Pessoa falou sobre a viagem.
“Depois das manifestações que recebi em São Paulo, me parece impossível receber homenagens maiores. Mas, diante da massa popular, onde havia representantes de todas as classes populares, me senti orgulho e agradecido pelo fato de todos fazerem justiça aos esforços do meu governo.”
Folha da noite, 30 de agosto de 1921
Monumento foi erguido ao lado da Estação da Luz e durou pouco tempo

O arco do triunfo da cidade de São Paulo foi erguido ao lado da Estação Ferroviária da Luz. Isso porque, na época, a ferrovia era o principal meio de ligação da capital da república com São Paulo. Além disso, fazia todo o sentido para os organizadores que, ao sair do trem e embarcar em um automóvel rumo à sede do governo paulista, o presidente se impressionasse logo com o belo monumento.
Epitácio Pessoa saiu do Rio de Janeiro de trem, parando em inúmeras cidades paulistas, como Taubaté, São José dos Campos, Mogi das Cruzes, Poá, Tremembé e outras.
Ao chegar à Estação da Luz, Epitácio Pessoa foi recebido pelo governador de São Paulo, Washington Luís, pelo prefeito Firmiano Pinto e diversas autoridades.
Após o Hino Nacional, a comitiva embarcou em um carro rumo ao Palacete Prates, sede do governo, passando bem devagar sob o imenso “Arco do Triunfo”.
Como foi feito de madeira e gesso, logo depois da visita de Epitácio Pessoa, o arco foi abandonado, deteriorando-se, até que, em setembro daquele mesmo ano foi demolido.
O caráter efêmero da obra rendeu críticas. Na revista “Vida Paulista, nº 5, de 1921” uma charge mostrava três cidadãos ironizando a obra, comparando-a ao arco do triunfo francês. Um dos personagens comenta “…bancando Napoleão, hein, meu nêgo…”
Aliás, vale ressaltar que foi no dia 18 de fevereiro de 1806 que Napoleão Bonaparte promulgou o decreto que previa a construção do arco do triunfo francês, que foi concluído apenas em 1836.
O local do arco paulistano atualmente

Hoje, as proximidades do local do antigo arco paulistano são, ao mesmo tempo, um polo cultural, religioso e de comércio especializado.
Cultural pois do lado da região do bom retiro da avenida Tiradentes encontram-se os complexos da Pinacoteca, da Sala São Paulo, Memorial da Resistência, Museu da Língua Portuguesa e Parque da Luz. No lado do bairro da Luz, propriamente dito, dezenas de lojas especializadas em roupas para noivas dividem espaço com a Paróquia São Cristóvão e um pouco mais adiante, o Museu de Arte Sacra.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Par%C3%B3quia_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o_%28S%C3%A3o_Paulo%29
https://turismoemfoco.com.br/v1/2017/07/11/arco-do-triunfo-de-epitacio-pessoa-em-sao-paulo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Par%C3%B3quia_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o_%28S%C3%A3o_Paulo%29
https://saopauloantiga.com.br/o-arco-do-triunfo-de-sao-paulo/