Chegamos ao mês de setembro. Após o inverno aproxima-se a primavera. Flores, cores e sabores de um tempo associado à renovação, ao florescimento de uma nova etapa e isso não é apenas figura de linguagem. A primavera na maior cidade do Brasil traz um festival de flores nas árvores que insistem em sobreviver no concreto da cidade. Mas, se São Paulo cada vez mais se torna um deserto de concreto este deserto tem um oásis, criado no início do século XX e que é responsável por abastecer a metrópole de mudas de plantas, o Viveiro Municipal Manequinho Lopes.
Vamos começar voltando à São Paulo de 1798. A cidade “urbanizada” era restrita a poucas ruas do entorno do centro histórico. No mais, São Paulo era uma cidade rural, composta por chácaras e imensos terrenos. As pessoas nadavam nos rios, existiam poucas edificações, quase todas na área central e o entorno da cidade era composto pela cobertura original da Mata Atlântica.
Em 1798 São Paulo era uma capitania governada pelo português Antônio Manuel de Melo e Castro de Mendonça e foi neste ano que uma carta régia (uma espécie de “medida provisória”) do Rei de Portugal, determinou a criação de três viveiros de plantas na colônia (Brasil): um no Recife, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo.
No ano seguinte foi concedido ao Sargento Antonio Marques da Silva a permissão de se criar um Jardim Botânico junto com um Hospital Militar e a chamada “Casa do Trem”, que na verdade nada tem a ver com a ferrovia, ainda. Se referia à um depósito do “trem de artilharia” (armas e munições) do exército.

O local escolhido para a implantação deste jardim botânico foi um platô elevado, distante o suficiente das áreas de várzea dos rios Tamanduateí e Tietê, próximo à então Capela da Luz, distante cerca de 3 km da área central da cidade, em direção norte.
As obras para instalação do Jardim Botânico foram realizadas com recursos levantados por cidadãos comuns em troca de patentes de oficiais de milícia (não integravam as forças armadas mas detinham alguma “autoridade” concedida pelo monarca). As obras sofreram atrasos, ficando prontas somente em 1825.
Este foi o primeiro jardim público da cidade. Hoje é o Parque da Luz, ao lado da estação ferroviária do mesmo nome. O jardim passou por vários melhoramentos no decorrer dos anos e em 1899 ganhou um administrador, Antonio Etzel.
Naquele ano também a cidade teve como prefeito Antônio Prado, homem muito viajado pela Europa, que conheceu belos jardins e áreas verdes que existiam no Velho Continente e assim, como prefeito, começou a arborizar a cidade.
Antonio Prado introduziu em São Paulo o chamado plano americano de ajardinamento, com amplos gramados e ruas direcionais para facilitar o lazer e o trânsito de pedestres e para dar mais verde à cidade era necessário produzir mudas de árvores e arbustos para plantio em praças e jardins.
Já existiam dois viveiros para produção de mudas: um pequeno, no Jardim Público (Luz) e um viveiro maior, na região da Água Branca, mas que não davam conta das necessidades da cidade que crescia vertiginosamente.
Em 1916, durante o governo de Washington Luis, a prefeitura comprou um grande terreno em uma área pantanosa mais ao sul da cidade, que originalmente havia abrigado aldeias indígenas no início da colonização e, após o povoamento, pastagem para as boiadas que vinham do interior, destinadas ao Matadouro Municipal, na região da Vila Mariana. Este terreno viria a ser o famoso Parque do Ibirapuera.
Em 1927 o então prefeito Pires do Rio apontou a necessidade de incrementar o número de áreas verdes na cidade, “úteis à higiene da população urbana”. Assim, o viveiro que estava na Água Branca foi transferido para o terreno da Vila Clementino, em 1928.
Manuel Lopes, o “Manequinho”

Nesse momento da história da capital entra em cena um personagem importante: Manoel Lopes de Oliveira Filho, nomeado diretor da recém-criada Divisão de Matas, Parques e Jardins, na administração do prefeito Fábio da Silva Prado.
Pioneiro jornalista científico do Brasil, Manuel foi chefe do Serviço Científico do Instituto Biológico de São Paulo, chefe da Divisão de Matas, Parques e Jardins de São Paulo e membro do Conselho Florestal do Estado. Realizou pesquisas sobre as pragas que assolavam os cafezais, inclusive a broca-do-café, a principal praga dos cafezais brasileiros à época.
Grande conhecedor da área do Ibirapuera, Manoel foi o responsável por implantar o viveiro, evitando que o terreno fosse invadido e que a prefeitura perdesse o local, contando com a ajuda de Arthur Etzel chefe da Subdivisão de Parques e Jardins e do chefe viveirista Erwin Burckhardt.
Mas havia uma questão. O terreno era muito pantanoso e para resolver este problema, Manoel, que tinha o apelido de Manequinho Lopes, plantou muitos eucaliptos australianos no local para a eliminação do excesso de umidade do solo.
Depois deu início ao plantio de espécies destinadas ao embelezamento das ruas, parques e jardins: árvores nativas e árvores exóticas como pau-ferro, ipê, pau-brasil, pau-jacaré, tipuana, flamboyant, sibipiruna, bem como o cultivo de arbustos, trepadeiras e flores.
Em 1933, os responsáveis pelo projeto do futuro Parque Ibirapuera pediram ao prefeito Fábio Prado a retirada do viveiro. Ao saber do projeto, Manequinho Lopes agiu junto ao prefeito para que fosse criado um viveiro definitivo para a cidade e seus esforços garantiram a permanência do viveiro no local, mesmo a contragosto dos envolvidos na implantação do Ibirapuera.
Nos anos 1930 o Viveiro Manequinho Lopes era considerado o maior e mais variado da América do Sul e neste período as mudas eram fornecidas gratuitamente às pessoas interessadas. Há relatos que dizem que o próprio Manequinho e sua equipe chegavam a fazer jardins gratuitamente em casas e prédios da capital.
Em fevereiro de 1938 Manequinho Lopes faleceu e para homenageá-lo, o prefeito, pelo ato nº. 1372, de 14 de março do mesmo ano, deu o nome de Manequinho Lopes ao viveiro municipal. Arthur Etzel, filho de Antonio Etzel (administrador do Jardim Público-Luz), se tornou o novo chefe do Viveiro e trabalhou no Ibirapuera em diferentes funções por mais de 50 anos.
Berçário de mudas para uma cidade cada vez menos verde

Durante as décadas de 1940, 50 e 60, o Viveiro Manequinho Lopes era o único com a função de abastecer os jardins da cidade, promover a manutenção e o plantio de novas árvores. Nos anos 60 a cidade crescia muito e foi preciso criar outro viveiro, que foi implantado em Carapicuíba – e mais tarde, transferido para Cotia (Viveiro Harry Blossfeld) – além de treinar novas equipes para o trabalho com o verde nas Administrações Regionais.
Em 1987 foi implantado o Viveiro Arthur Etzel, localizado no Parque do Carmo, bairro de Itaquera, onde são produzidos arbustos e herbáceas.
A área do Viveiro Manequinho Lopes foi restaurada em 1993 com o paisagista Roberto Burle Marx propondo um novo projeto para o local. O viveiro, revitalizado, foi entregue à população no dia 24 de março de 1994.
Em seus 48 mil metros quadrados no Parque Ibirapuera, o Viveiro Manequinho Lopes possui coleções vivas de espécies vegetais com um rico acervo de 200 espécies diferentes de plantas com potencial paisagístico e à disposição dos visitantes.
A estrutura do viveiro conta atualmente com 10 estufas (casas de vegetação); 97 estufins (canteiros suspensos); 3 telados (estruturas cobertas com tela de sombreamento) e 39 quadras entre quadras de matrizes e de estoque de mudas envasadas, prontas para o fornecimento aos órgãos públicos municipais.

Hoje, além de sua função principal, o viveiro oferece uma oportunidade única para a população. Por meio do Portal 156 da Prefeitura de São Paulo, qualquer cidadão pode solicitar mudas de árvores de forma gratuita para plantio em seu imóvel ou condomínio.
Para os interessados em aprofundar seus conhecimentos em jardinagem, a Escola Municipal de Jardinagem, que funciona no mesmo local (Avenida IV Centenário, 1268, no Parque Ibirapuera (próximo ao portão 7a), oferece o Curso Municipal de Jardinagem. Com vagas limitadas, o curso é uma porta de entrada para quem deseja aprender sobre botânica, cultivo e manejo de plantas.
O Viveiro Manequinho Lopes não está sozinho em sua missão. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), criada em 1993, também opera outros dois equipamentos: o Viveiro Arthur Etzel e o Viveiro Harry Blossfeld.
A SVMA é um órgão da maior importância para a cidade, tendo como objetivos planejar, ordenar e coordenar as atividades de defesa do meio ambiente no Município de São Paulo, definindo critérios para conter a degradação e a poluição ambiental.
Se no início do Séc XX a cidade era predominantemente composta por vegetação natural como Mata Atlântica e campos, a urbanização acelerada transformou a paisagem da capital em menos de 100 anos e nessa remodelação foi o verde quem sempre foi colocado à margem do “progresso”.

A expansão da cidade, com a abertura de grandes avenidas, edifícios, estações de Metrô, terminais de ônibus, grandes condomínios, shopping centers, eliminação das áreas de várzea e diminuição dos lotes residenciais, resultou na supressão de muitas áreas verdes e na impermeabilização da cidade, que lembremos, também canalizou e enterrou seus rios e cursos d’água.
Embora dados da Prefeitura de São Paulo indiquem que a cobertura vegetal na cidade ultrapassa 50% de seu território, essa estatística é distorcida à medida que sim, contempla parques, praças e canteiros, mas também incluí enormes áreas de preservação ambiental nos extremos do município, como Parelheiros e Perus.
Se contarmos a mancha urbana, o centro e o centro expandido da capital, temos pouco a comemorar, uma vez que a cobertura vegetal original e mesmo as áreas verdes planejadas, só diminuem.
E no quintal da Casa da Boia, um símbolo de resistência

Como já falamos muitas vezes, a Casa da Boia está localizada no coração da cidade de São Paulo. No centro histórico, ao lado do Mosteiro de São Bento, em meio a tudo de bom (e de ruim) do centro da cidade.
Mas, talvez o que você não saiba é que, assim como a própria história de nosso casarão e da própria postura de nossa diretoria em ser um local de memória e resistência histórica e cultural, existe um símbolo de resistência “personificado” se é que se pode dizer assim, em uma bem cuidada parreira, em um jardim ao fundos do terreno de nossa empresa.
Plantada há mais de 30 anos por um antigo funcionário, a parreira da Casa da Boia é cuidadosamente mantida por todos os nossos colaboradores e, sempre ao final do ano, nos brinda com uvas verdes, mostrando que não é preciso grandes espaços, apenas carinho e boa vontade para ter a natureza junto de si, ainda que no centro da cidade.
Cores, flores e sabores
Se a primavera traz consigo o ciclo da vida, da renovação e da inspiração, o momento em que a natureza floresce, enche os olhos de cores e desperta sentidos, a Casa da Boia lança sua campanha comercial “Cores, Flores e Sabores”.

Nesta campanha, celebramos os cinco sentidos: o perfume das flores, as cores que encantam, o som da vida em movimento, o toque que conecta e o paladar que acolhe.
Panelas, receitas e dicas de cozinha se encontram com o verde do jardim, a jardinagem e o cuidado com a casa. Um convite à união de universos: da mesa ao quintal, da natureza à cidade, da hidráulica aos laminados — tudo se conecta em harmonia.
Nas próximas semanas você poderá encontrar em nossa loja ofertas exclusivas em produtos para jardinagem, culinária, decoração em cobre e muito mais.
Mais que produtos, apresentamos experiências que unem tradição, estética e funcionalidade. Porque viver a primavera é sentir a beleza em cada detalhe!