As relações da Casa da Boia com o design e as artes plásticas

O que uma loja que vende metais não ferrosos e hidráulica tem a ver com as artes plásticas? Acredite, ao menos na Casa da Boia essa relação já rendeu muita coisa legal e como neste 8 de maio é comemorado o dia do artista plástico a gente te convida para descobrir um pouco mais sobre como com criatividade e iniciativa as artes plásticas combinam, sim, com a nossa tradicional loja.

Se a gente for às raízes, à essência da criação artística, precisamos admitir que toda obra nasce de uma necessidade. Seja ela pessoal, do artista que deseja traduzir sentimentos, inquietações, experiências particulares em algo concreto que exprima esses sentimentos, seja da necessidade de expressar seu talento para uma finalidade comercial.

Quantos não foram os grandes artistas plásticos que no curso da história produziram para mecenas? Para instituições como a Igreja? Para empresas?

Logotipo Casa da Boia Cultural
Logo da Casa da Boia Cultural, baseado no original do início do Séc. XX.

Assim admitido e considerando a materialização de uma obra como uma criação artística, podemos dizer que, possivelmente, o primeiro contado da Casa da Boia com expressões artísticas se deu ainda em seus mais iniciais momentos.

Afinal, é correto dizer que as pessoas desconhecidas que criaram o desenho (ou design, para usar uma expressão largamente consolidada) das belíssimas peças que a empresa fabricava desde que foi fundada, não eram artistas?

Ou ainda aqueles que, com ferramentas manuais, davam forma e funcionalidade às peças de cobre torneadas, repuxadas, fundidas, trabalhadas polidas e finalizadas, a partir de chapas ou lingotes de metal, eram meros operários, ou tinham algo de artístico em suas habilidades?

Os primeiros que desenharam nosso logotipo, idealizaram o catálogo de produtos dos anos 1920, empreendendo talento em reproduzir com desenhos detalhados as peças reais ou reproduzindo em raras fotografias essas peças, embora com finalidades comerciais, não eram igualmente artistas?

Enfim, não se trata de polemizar sobre se a arte comercial é menos arte do que a arte autoral. Se o designer é menos artista que o pintor, se o escultor é mais versátil do que um artesão de metais, e sim compreender que a essência da criação é fundamentalmente humana.

Seja uma obra concebida para dar vazão às inquietações do autor, seja uma obra concebida para um fim comercial, sempre é uma criação artística.

A Casa da Boia transita e por si mesma dialoga com essa dualidade ao longo de sua história. Não é arte o que se vê na arquitetura de sua sede? Nas sacadas com gradis de ferro? Nas pinturas decorativas de nosso sobrado?

Ainda que a gente não tenha registro, não saiba quem foram essas pessoas que há mais de cem anos já empregavam o seu talento na construção do que hoje entendemos como um patrimônio imaterial de arte inserida na sede de nossa empresa e nos produtos que aqui fabricamos, não podemos deixar de considerá-los artistas.

Por meio de um artista gráfico o design protagoniza uma mudança na Casa da Boia

Selo comemorativo produzido para os 100 anos da empresa trouxe o design de volta para a empresa.
Selo comemorativo produzido para os 100 anos da empresa trouxe o design de volta para a empresa.

Por décadas o que chamamos de design foi algo ordinário na história da Casa da Boia, assim como em qualquer outra empresa. Você sabe dizer o nome do artista que desenhou o logo da Nike? o da Coca Cola? São profissionais anonimizados…

Quando, entretanto, o diretor da Casa da Boia, Mario Rizkallah, à frente da direção da empresa quando ela iria completar os seus 100 anos de atividades, decide confiar a um arquiteto e designer, a criação de um logotipo comemorativo, a empresa passou a enxergar com outros olhos esse tipo de criação.

O convidado para criar um marco gráfico dos 100 anos da empresa foi o Arquiteto e designer Alvaro Bussab, que explica o conceito usado então:

“Uma xilogravura da marca em art-noveau, serviu de referência para essa releitura, que foi adaptada para as novas linguagens explorando o uso cada vez maior dos computadores na criação gráfica, permitindo criar uma tridimensionalidade mais realista, acrescentando cores, reflexos e sombras.

O desenho proposto pensava em dar menos ênfase à boia em si como objeto. Nesse sentido, “eliminei” o objeto, mas mantive o desenho da tipologi, mantendo a originalidade  do “art-nouveau”.

Assim, o selo teve como base, a representação do metal não ferroso, o latão e, sobre ele, a tipologia reestilizada, baseada na tipologia original. As cores tentavam traduzir o brilho, a textura e o comportamento dos metais não-ferrosos. Complementando a proposta artística, a informação da existência da empresa ‘desde 1898’”. 

A releitura de Bussab foi adotada como representação da empresa a partir de então e, mesmo quando novas artes foram criadas e adaptadas, a frase “Casa da Boia Metais e Hidráulica desde 1898” permaneceu como sendo a identidade visual da empresa.

Durante o início dos anos 2000 foram várias as contribuições de Álvaro Bussab como designer de peças gráficas comemorativas usadas na sinalização do ponto de venda e mesmo nas comunicações digitais da empresa, inclusive o personagem que, conhecido por “boinha”, trazia um aspecto mais pessoal à comunicação, tendo sido usado em campanhas comerciais e de relacionamento com o público interno da Casa da Boia.

As artes plásticas foram protagonistas pela primeira vez em 2006

Em 2006, um projeto patrocinado pela Casa da Boia gerou um documntário e uma exposição de gravuras.
Em 2006, um projeto patrocinado pela Casa da Boia gerou um documntário e uma exposição de gravuras de artistas contemporâneos brasileiros.

Quando das comemorações dos seus 108 anos de atividades, um projeto inovador trouxe pela primeira vez uma exposição de arte para a Casa da Boia.

Na ocasião, o artista plástico Rubens Matuck, importante em diversas formas de expressão, como a pintura e, principalmente, a gravura em metal, propôs à Casa da Boia um projeto para retratar a obra de um artista impressor de gravuras, chamado Roberto Grassmann.

Um parênteses, na gravura em metal, o artista gravurista cria sua obra diretamente sobre uma chapa de cobre. Para que esta obra ganhe a projeção em uma tela (quase sempre o papel) é necessário a contribuição de um impressor. Este, por sua vez, quase nunca é lembrado quando a gravura de um artista ganha projeção.

O projeto “Impressões, a arte comentada de Roberto Grassmann” rendeu uma justa homenagem ao impressor responsável por trazer à vista os trabalhos de artistas como o próprio Matuck, Feres Khoury, Sergio Fingermann e Marcelo Grassmann, dentre outros.

Estes e outros artistas prestaram depoimentos para o documentário de mesmo nome produzido e distribuído para mais de 1.000 escolas de arte e de ensino fundamental no qual o próprio Roberto Grassmann gravou uma aula completa sobre a impressão de gravuras.

O projeto resultou na primeira exposição de arte realizada na Casa da Boia, com as obras deste grupo de artistas, acontecida no ano de 2006.

A gravura voltou à Casa da Boia em mais duas oportunidades

Em 2018 e 2023 a gravura voltou a ocupar o espaço expositivo da Casa da Boia.
Em 2018 e 2023 a gravura voltou a ocupar o espaço expositivo da Casa da Boia.

Essa forma de expressão artística, a gravura em metal, que se relaciona diretamente com a Casa da Boia por ter a sua matriz em uma chapa de cobre, material comercializado pela empresa, foi protagonista de mas duas exposições ao longo dos últimos anos.

Primeiramente, em 2018, quando, como parte das comemorações dos 120 anos da empresa, foi realizada a exposição “Niculitcheff/Possebon. Dois gravadores”, mostra de inauguração do espaço expositivo Casa da Boia Cultural, localizado no porão da loja. Foi composta por  obras dos artistas Ennio Possebon e Sergio Niculitcheff e visitada por mais de 1.000 pessoas.

Depois, em 2023, com a exposição “Gravura em Foco”, pioneira ao trazer para um único espaço expositivo, pela primeira vez, obras do acervo do Gabinete de Estampas da Unicamp.

Com curadoria de Sergio Niculitcheff, a mostra reuniu cerca de 50 obras dos maiores gravuristas brasileiros.

E a influência de uma artista plástica mudou a imagem da empresa

Adriana Rizkallah trouxe seu olhar de artista para criar uma nova linguagem visual à loja.
Adriana Rizkallah trouxe seu olhar de artista para criar uma nova linguagem visual à loja.

Não por acaso as artes plásticas tem grande influência nos projetos atuais da Casa da Boia.

Em 2014, Adriana Rizkallah passou a integrar a gestão da empresa, primeiro, como diretora de projetos, depois, assumindo a diretoria cultural e atualmente também a de comunicação.

Adriana, artista plástica formada pela FAAP e com trabalhos de grande expressão em técnicas de escultura com papel machê,  trouxe para o negócio a visão das artes plásticas, aplicando seu olhar e talento à configuração de um novo projeto visual de loja, em que materiais como os tubos de cobre deixaram de ser apenas mercadoria e passaram a ser protagonistas.

A partir de suas intervenções a loja passou a ter expositores construídos com  tubo de cobre e madeira reciclada; detalhes da ambientação em papel marchê; a criação de um espaço-conceito para a apresentação de uma nova linha de produtos em cobre e o resgate de antigos moldes usados na produção que passaram a trazer para a loja a memória e a história da própria empresa em sua ambientação comercial.

A entrada da artista plástica na curadoria cultural trouxe também uma nova dinâmica para as atividades do núcleo cultural da empresa.

A Casa da Boia Cultural, cuja curadoria de atividades é dividida com Luiza Rizkallah é um núcleo de difusão da história, memória e cultura da Casa da Boia, que promove palestras, eventos, debates, workshops, apresentações musicais e exposições frequentemente, provando que, como dissemos no início, uma loja de metais pode, sim, se unir às artes plásticas para proporcionar uma experiência diferenciada na cena comercial e cultural paulistana.

Mais uma vez o olhar da artista transforma moldes antigos e cobre "bruto" em um espaço de design e valorização da história.
Mais uma vez o olhar da artista transforma moldes antigos e cobre “bruto” em um espaço de design e valorização da história.

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