15 de outubro é o dia de celebrar os profissionais que dedicam suas carreiras a transmitir conhecimento. Aqui falamos do conhecimento formal, acadêmico, estruturado nas ciências e dos profissionais que passam anos em formação constante e que muitas vezes superam inúmeras dificuldades para exercer sua missão: os professores.
É expressivo que o local onde a cidade de São Paulo nasceu chama-se “Pateo do Collegio”. Ainda que passados mais de 470 anos, muitos possam questionar as intenções dos Jesuítas, é fato que a história da educação na cidade começa com os padres da Companhia de Jesus, quando estes instalam o “Collegio” no alto da colina em que hoje está o chamado “centro histórico” de São Paulo, aliás, bem pertinho aqui da Casa da Boia.
Naqueles primórdios o objetivo inicial do “Colégio Jesuíta de São Paulo de Piratininga” era converter os indígenas à religião católica e a prover educação elementar aos filhos dos colonos portugueses, dando ao “Collegio” a conotação de uma instituição de ensino. A primeira de São Paulo.

Eram tempos conflituosos aqueles pós-descobrimentos e os Jesuítas, fundadores da cidade, acabaram expulsos do território brasileiro em 1759. O antigo casarão colonial foi completamente descaracterizado por profundas reformas a partir de então, sobretudo no final do Século XIX e na primeira metade do Século XX.
A edificação atual, que tem “inspiração” na construção original, foi construída a partir de 1954. Do conjunto original resta apenas uma única parede de taipa, datada de 1585.
As Aulas Régias
Durante o reinado português de D. José I (1750-1777), o Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo), foi secretário de Estado do Reino, tendo grande confiança do Rei e sendo um dos mais fortes homens da estrutura política portuguesa.
Ele foi responsável pela implantação em Portugal e em suas colônias, das chamadas “Aulas Régias”, um sistema de ensino público laico e centralizado cujo objetivo principal era substituir o controle da Igreja sobre a educação, estabelecendo um sistema estatal com professores concursados para ensinar matérias como as “primeiras letras”, gramática, grego e latim.
Se o sistema já teve dificuldade para se estabelecer em Portugal, nas colônias também não foi fácil implantá-lo. Tanto assim que depois de várias tentativas de centralizar esse sistema de ensino Portugal delegou aos governadores das capitanias, em 1799, a responsabilidade pela contratação de professores e construção de escolas.
A chegada da corte ampliou o ensino

Lembrando as aulas de história… no ano de 1808, fugindo das invasões napoleônicas, Portugal transfere seu governo para sua maior colônia. Embora radicada no Rio de Janeiro, a chegada da corte do Rei Dom João VI trouxe um impulso à ampliação das Aulas Régias e também ao ensino superior no Brasil.
Em 11 de agosto de 1827 é criada em São Paulo a primeira faculdade da cidade, a Faculdade de Direito de São Paulo (atualmente Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo).
Ainda no Século XIX, surge a Escola Normal de São Paulo (Instituto de Educação Caetano de Campos), em 1846. A Escola Politécnica de São Paulo e a Escola de Engenharia Mackenzie foram fundadas em 1893.
Os mais antigos colégios públicos de São Paulo
No Brasil imperial e no início da República, a educação era, prioritariamente, responsabilidade do Estado, que à época se dividia em províncias, e de uma reduzida iniciativa privada interessada no tema.
Os municípios praticamente não tinham iniciativas de educação pública e quando o tinham, ainda assim estavam ligados à alguma necessidade da iniciativa privada, como as Escolas Municipais Noturnas, do final do Séc.XIX, destinadas à instrução de operários e aprendizes das indústrias.

Uma rede municipal de ensino só viria a se iniciar a partir de convênios com o Estado e, principalmente, com a criação de parques infantis, a partir de 1935, na gestão do prefeito Prestes Maia. Datam deste ano os “Parques Infantis: D. Pedro II, Ipiranga e Lapa”, mas a estruturação de uma rede de escolas municipais só viria a acontecer no final da década de 1940, com a criação da “Secretaria de Educação e Cultura”, em 1947.
Por essa razão os estabelecimentos públicos de ensino mais antigos da capital paulista são de administração estadual.
Tem-se como certo que a mais antiga escola pública em atividade na capital é a “A Escola Estadual de São Paulo”, fundada em 1894 que fica no Parque Dom Pedro, centro da capital. Originalmente denominada Gymnasio do Estado de São Paulo, ocupou várias edificações na cidade, inclusive o prédio da Pinacoteca.

Outro colégio centenário da capital é o Primeiro Grupo Escolar do Brás, hoje conhecido como E.E. Romão Puiggari. Foi construído para atender os imigrantes espanhóis, italianos e portugueses que moravam no bairro, isso também em 1894.
O edifício do colégio foi projetado por Ramos de Azevedo. Ainda em uso, é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal desde 2002.
Também é projeto do arquiteto Ramos de Azevedo o edifício da terceira escola mais antiga da capital.

Fundado em 1907, o Grupo Escolar da Avenida Paulista nasceu para reunir seis pequenas escolas da região. Seu primeiro endereço foi a Rua Pamplona, onde permaneceu até 1919, quando se mudou para um suntuoso prédio no começo da Avenida Paulista. Atualmente chama-se Escola Estadual Rodrigues Alves.
As instalações do colégio são também tombadas pelo Condephaat, desde 1985.
De 1909, o Grupo Escolar de Vila Mariana, hoje Escola Estadual Marechal Floriano, ocupa um edifício neoclássico na Rua Dona Júlia, desde 1919.
E os pioneiros colégios particulares
Ainda que o ensino brasileiro tenha nascido originalmente como política pública, isso naturalmente não impediu a elite colonial e posteriormente republicana de criar suas instituições de ensino, muitas vezes originadas a partir de um agrupamento religioso, econômico ou étnico.

Em 1858 foi criado o Colégio Diocesano, anexo ao Seminário Episcopal de São Paulo, na Avenida Tiradentes, local onde atualmente fica a Igreja de São Cristóvão.
No ano de 1908 a instituição passou a ser administrada pelos Irmãos Maristas (uma congregação religiosa masculina fundada por São Marcelino Champagnat, em 1817, na França).
Sob a gestão dos Maristas o colégio se muda para a Vila Mariana, para um edifício em estilo neoclássico, inaugurado em 25 de janeiro de 1935 e que ainda funciona como sua sede.
O Colégio São Bento foi inaugurado em 1903, tendo como base os princípios beneditinos de “Ora et Labora” (reza e trabalha), o que moldou a sua filosofia educacional ao longo do tempo.

Os monges beneditinos, que já atuavam na educação desde o início da colonização no Brasil, chegaram ao Rio de Janeiro em 1590, para fundar o que seria posteriormente o colégio, que tornou uma das mais tradicionais instituições de ensino do Brasil, tanto pela sua estrutura física e educacional quanto pela sua história e tradição.
Vale uma curiosidade, Instalado anexo ao Mosteiro de São Bento, o terreno do colégio faz divisa com o terreno da Casa da Boia e não raro das instalações da empresa é possível ouvir a algazarra típica de crianças na “hora do recreio”.

O Colégio Nossa Senhora de Sion é outra tradicional instituição de ensino privada, localizada no bairro de Higienópolis, na região central da cidade de São Paulo. A escola faz parte da Congregação das Religiosas de Nossa Senhora de Sion.
Nasceu na capital paulista em 1911, como uma escola de modelo francês, voltada às meninas de classes sociais abastadas e de educação estritamente religiosa, algo que com o tempo se modernizou. Hoje é uma instituição de ensino misto e, embora de embasamento católico, segue o currículo laico.
Seu edifício sede, de estrutura eclética projetada também por Ramos de Azevedo, foi tombado pelo Condephaat em 10 de novembro de 1986.
No bairro de Cerqueira César, ao lado do Parque Trianon, está outro tradicional colégio paulistano, fundado por iniciativa da colônia italiana da capital.

O “Instituto Medio Italo Brasiliano Dante Alighieri” foi fundado por imigrantes da Itália, com a participação de empresários da comunidade como o industrial Rodolfo Crespi, em 1911.
O colégio tinha paridade com o ensino italiano até 1942, quando a ditadura de Getúlio Vargas proibiu o ensino da língua italiana (e alemã) nas escolas do Brasil por conta da Segunda Guerra Mundial.
Neste período o colégio sofreu intervenção e passou a ser chamado de colégio Visconde de São Leopoldo. Após a guerra a escola recebeu a denominação de Colégio Dante Alighieri, em 1946.
Edifícios de seu complexo são também tombados pelo patrimônio histórico estadual (Condephaat) e municipal (Conpresp) desde 2018.

Para nos mantermos em um “recorte temporal” das instituições de ensino paulistas com mais de cem anos, nosso último colégio da lista é o Rio Branco.
O Instituto Rio Branco (curso preparatório) foi criado em 1925 pelo professor Savério Cristófaro. Em 1946, a instituição foi adquirida pela Fundação de Rotarianos de São Paulo e passou a ser denominado Colégio Rio Branco como é conhecido hoje.
A melhor do mundo é paulista
Embora não localizada no município de São Paulo e sim em Cubatão, a Escola Estadual Parque dos Sonhos foi eleita no último dia 30 de setembro, a melhor escola pública do mundo na categoria “Superação de Adversidades” do prêmio mundial “The World’s Best School Prizes”.
O prêmio é promovido anualmente pela T4 Education, uma plataforma global que reúne uma comunidade de mais de 200.000 professores de mais de 100 países para discutir e promover a melhoria global da educação.

Atendendo a um conjunto habitacional de baixa renda no município de Cubatão, uma área altamente vulnerável, caracterizada por violência e vandalismo, os alunos historicamente abandonavam os estudos devido à criminalidade, os desafios com a infraestrutura básica e à falta de engajamento dos professores e da comunidade em geral.
A escola então mudou sua abordagem pedagógica para inserir princípios humanistas e a não violência como metodologia de ação, além de atividades extracurriculares para catalisar a conexão dos alunos e da comunidade com o espaço escolar.
Desde a implementação do modelo de aprendizagem, a taxa de matrícula de alunos aumentou 500% e a escola não sofreu nenhum incidente de vandalismo, seja por parte de alunos ou da comunidade externa, desde 2021.
Atualmente, há 21 projetos extracurriculares liderados por alunos em andamento com o objetivo de valorizar o ser humano e fortalecer a aprendizagem, com foco na transformação social.
Mais de vinte escolas da região adotaram iniciativas desenvolvidas pela EE Parque dos Sonhos, com grande sucesso, comprovando que uma metodologia de aprendizagem que tem como base a não violência pode realmente mudar vidas.
Vale ressaltar, que assim como na Parque dos Sonhos, todo um “universo” composto pela comunidade, pais, políticos, pedagogos e profissionais de apoio orbita a figura central do professor, elo final desta cadeia com o aluno em formação. A todos os professores, o nosso mais profundo respeito!
Fontes:
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2023/10/Linha-do-Tempo-interativa.pdf
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/ensino-medio/historico/
https://cpp.org.br/colegio-publico-mais-antigo-de-sp-vira-modelo-para-o-estado/
https://t4.education/5-prizes-finalists-winners/ee-parque-dos-sonhos/
https://www.educacao.sp.gov.br/parque-dos-sonhos-de-cubatao-e-melhor-escola-mundo