Conheça a história do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga

Às margens do Riacho do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil. 71 anos depois, com o crescimento da cidade de São Paulo, em 12 de setembro de 1893 o governo do estado de São Paulo declarava de uso público as terras no entorno do riacho e sua nascente, abrindo caminho para a criação do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.

São declaradas de utilidade publica para desapropriação na fórma da lei, os terrenos da bacia do ribeirão Ypiranga pertences a diversos, com a área total de 6.969.600 metros quadros e descriptos no memorial e plantas annexas a este decreto, rubricas pelo Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas.

Palacio do Governo do Estado de São Paulo, aos 12 de Setembro de 1893.

Bernardino de Campos.

Decreto que desapropriou as terras no entorno da nascente do Rio Ipiranga.
Decreto que desapropriou as terras no entorno da nascente do Rio Ipiranga.

Naquele final do Séc. XIX, a região hoje conhecida como “Água Funda”, que engloba avenidas importantes como a do Cursino e a Miguel Estéfano, na zona sul da cidade, era então uma localidade pacata, distante do centro, com muitas chácaras, veios d’água e brejos, cuja mata densa abrigava as nascentes do Riacho do Ipiranga, um afluente do Rio Tamanduateí.

A cidade crescia em ritmo acelerado e a questão do abastecimento de água começava a ser um tema importante para o poder público. Ainda não existia o reservatório da Cantareira (que viria a ser o maior sistema de abastecimento da capital), cujas primeiras aduções que a ele deram origem, começaram a ser formadas entre 1895 e 1898 e o Tamanduateí e seus afluentes, como o Saracura, o Itororó e o Anhangabaú já mostravam sinais de que não seriam suficientes para atender a demanda crescente por água na cidade.

Neste contexto surgia o Decreto Estadual 204, de 12 de setembro de 1893, por meio do qual o Estado passou a desapropriar os sítios e chácaras no entorno da nascente do “Ypiranga”, como se grafava à época, a fim de preservar a produção da água naquele importante sistema hídrico.

Esta questão da implantação de um sistema de captação e distribuição de água na cidade no final do Séc. XIX não foi algo simples. Ao contrário, o processo foi bem conturbado, como os historiadores Renata Geraissati e Diógenes Sousa relatam nos editoriais“A água como mercadoria – cenas de uma longa disputa”, “Redes de Abastecimento e a Modernidade” e “As águas vão rolar – a polêmica implantação do sistema de abastecimento de água na cidade de São Paulo”.

Estes três editoriais disponíveis para download aqui no site da Casa da Boia Cultural mostram como a transformação de uma São Paulo essencialmente rural para um núcleo cada vez mais urbanizado provocou muitas disputas entre o poder público, por meio da “Repartição dos Serviços Technicos de Águas e Exgottos da Capital” a empresa criada para gerir o sistema, a “Companhia Cantareira e Esgotos” e os cidadãos, de tal forma que muitos anos foram necessários para que São Paulo conseguisse organizar um sistema de distribuição de água para a área urbana.

As nascentes do Ipiranga estavam inseridas neste contexto do abastecimento de água para os bairros da zona sul e sudeste e assim servirarm essa população até os anos de 1930.

A função da bacia do Ipiranga no abastecimento foi diminuindo gradativamente à medida que o sistema Cantareira seguia sendo melhor estruturado, porém o governo estadual continuava dono das terras no entorno das nascentes do riacho.

No início do Séc. XX surge o Jardim Botânico…

Aula de Botânica em 1929. Carlos Hoehne é o segundo à esquerda.
Aula de Botânica em 1929. Carlos Hoehne é o segundo à esquerda.

Para gerir a área de quase 7 milhões de metros quadrados, no início do Século XX o governo do estado determina que, a partir de 1928, o Serviço de Botânica e Agronomia do Instituto Biológico (que posteriormente daria origem ao Instituto de Botânica), passaria a ter responsabilidade sobre a área e, sob a chefia do botânico brasileiro Frederico Carlos Hoehne, iniciou-se o processo de implantação de um Jardim Botânico, com a instalação de um orquidário a partir da aquisição de uma pequena coleção.

As primeiras obras do local começaram dando forma a dois lagos e a um jardim inspirado em uma parte do Jardim Botânico de Upsala, na Suécia, com um orquidário, duas estufas com estruturas de ferro que vieram da Inglaterra, duas escadarias e uma área com espelho d’água.

Construção das estufas do Jardim Botânico, em 1929.
Construção das estufas do Jardim Botânico, em 1929.

Hoehne construiu, próximo às estufas, as chamadas pérgolas para abrigar a coleção de orquídeas. Mais tarde, essas estruturas ficaram conhecidas como Orquidário do Estado que, em 1929, já recebia o público para visitação.

Apesar de aberto à visitação desde 1928, o Jardim Botânico de São Paulo foi oficializado só em 1938, por meio do Decreto-Lei nº 337, de 16 de março daquele ano.

Em 1942, o Departamento de Botânica do Estado ganhou autonomia e passou a se chamar Instituto de Botânica, tendo como seu primeiro diretor, como era natural, o Dr. Frederico Carlos Hoehne, encarregado de manter e administrar o Jardim Botânico, além de desenvolver pesquisas nas mais diversas áreas da botânica.

… e a área passa a ser um pólo de ciências

Observatório de São Paulo, hoje sob gestão da USP, localiza-se no parque.
Observatório de São Paulo, hoje sob gestão da USP, localiza-se no parque.

A criação do denominado “Parque Estadual das Fontes do Ipiranga” ocorreu apenas em 12 de agosto de 1969, por meio do Decreto 52.281, formalizando e organizando a área que já se tornara um polo de produção científica, uma vez que, ao longo dos anos, além do Jardim Botânico e do Instituto de Botânica, diversas instituições foram ocupando partes da área do parque. 

Algumas por lá passaram e foram transferidas para outros locais, como o Instituto Geológico (depois transferido para Pinheiros) o Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental, (atualmente na Vila Mariana) Secretaria de Abastecimento e Agricultura de São Paulo, (hoje no centro), mas outros mantém suas atividades no Parque, como o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, sob gestão da USP, que lá mantém o Observatório de São Paulo.

Um parque, diversos atrativos

Além do núcleo “botânico” do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga a área abriga outras atrações que fazem sucesso principalmente com as crianças.

Registro do dia da inauguração do Jardim Zoológico, em 1959.
Registro do dia da inauguração do Jardim Zoológico, em 1959.

O Zoológico de São Paulo, que foi fundado em 16 de março de 1958, foi o primeiro grande empreendimento a ser instalado no parque. Criado em junho de 1957, a partir de uma instrução do então governador Jânio Quadros, ganhou personalidade jurídica e autonomia administrativa, financeira e científica em 1959.

Na década de 1970, mais precisamente em 1971, o empresário Francisco Luiz Galvão inaugurou um parque anexo ao Zoológico, que buscava replicar a experiência de um safári, mas em um ambiente controlado.

Nesta época os visitantes entravam com seus carros particulares, realizando um percurso em meio a diversos recintos com animais totalmente soltos, como leões, zebras, e macacos, que se aproximavam livremente dos veículos em movimento. 

O Simba Safari recebeu 8 milhões de visitantes até seu fechamento em abril de 2001, quando foi incorporado pela fundação Zoológico.

Tombamento e concessão

Até os anos 2000 as pessoas circulavam pelo Simba-Safári com seus próprios veículos.
Até os anos 2000 as pessoas circulavam pelo Simba-Safári com seus próprios veículos.

O Século XXI representou uma nova era para o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. Em 2018 foi tombado nas duas esferas de proteção. Na esfera municipal pela Resolução nº 40/CONPRESP/2018 e na estadual pela Resolução CONDEPHAAT SC-103/2018.

Em dezembro de 2021 foi iniciada a concessão das áreas de uso público do Parque que passaram a ser denominadas: Jardim Botânico, Zoológico e Zoo Safári. A empresa vencedora da licitação e atual administradora das áreas é a Concessionária Reserva Paulista S.A que, por meio da concessão ficou responsável pela preservação das três principais atrações do parque: o Jardim Botânico, o Zoológico e o Zoo-Safari.

Conheça o parque e também as ofertas da Casa da Boia

Se há uma estação propícia para visitar o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga é a primavera, quando a natureza exuberante do local se mostra em toda a sua renovação. O clima é ameno e convidativo para a contemplação em trilhas muito tranquilas.

A Reserva Paulista, que administra os parques, comercializa os ingressos por meio dos respectivos sites. Você pode escolher entre o ingresso individual ou pacotes para visitar todas as atrações. A gente colocou ao final do texto as informações.

Por falar em atrações, aproveite o mês da nova estação para conhecer as ofertas da campanha Flores, Cores e Sabores.

Nesta campanha, celebramos os cinco sentidos: o perfume das flores, as cores que encantam, o som da vida em movimento, o toque que conecta e o paladar que acolhe.

Panelas, receitas e dicas de cozinha se encontram com o verde do jardim, a jardinagem e o cuidado com a casa. Um convite à união de universos: da mesa ao quintal, da natureza à cidade, da hidráulica aos laminados — tudo se conecta em harmonia.

Nas próximas semanas você poderá encontrar em nossa loja ofertas exclusivas em produtos para jardinagem, culinária, decoração em cobre e muito mais.

Mais que produtos, apresentamos experiências que unem tradição, estética e funcionalidade. Porque viver a primavera é sentir a beleza em cada detalhe!

Casa da Boia

  • Endereço: Rua Florêncio de Abreu, 123, centro, SP
  • Horário de funcionamento: Diariamente, das 8h às 17h45
  • https://casadaboia.com.br/

Zoológico de São Paulo

Jardim Botânico de São Paulo

Simba Safari

Parque Cientec

  • Endereço: Av. Miguel Estéfano, 4200 – Água Funda, São Paulo – SP
  • Horário de funcionamento: Segunda a sábado, das 9h às 16h
  • Ingressos: entrada gratuita. Grupos devem realizar agendamento prévio.
  • Mais informações: https://www.parquecientec.usp.br/p%C3%A1gina-inicial

Fontes:

https://semil.sp.gov.br/sma/parques-urbanos/#1693942240640-3ad8b8f3-03c7

https://www.parquecientec.usp.br/hist%C3%B3ria-do-parque/hist%C3%B3ria-do-parque-completa

https://zoologico.com.br

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_Bot%C3%A2nico_de_S%C3%A3o_Paulo

https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/2020/08/os-jardins-botanicos-ao-longo-da-historia

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